domingo, 21 de junho de 2015

A produção da escola pública contemporânea  

 
             A função especificamente pedagógica da escola contemporânea considera-se a possibilidade objetiva de produção de uma nova escola e uma organização do trabalho didático que se deve as conquista tecnológicas na produção, comunicação e à informática. Foi à intenção do autor com o intuito de alertar, que a realização dessa nova instituição social deve partir de uma recuperação histórica das origens da escola pública reconhecendo os pilares que sustentam e tornam no seu entendimento, anacrônica, ou seja, que se opõe ao que é moderno; antiquado ou retrógrado.
             Nesse contexto determinar as condições materiais necessárias para o surgimento da escola publica e posteriormente para sua universalização, e as novas funções da escola demandadas pela sociedade contemporânea, Fazem uma crítica às leituras que, desprezam a historicidade em suas análises sobre o objeto em questão produzem uma visão conspiracionista da História. Alves fundamentou-se na análise da produção material da escola e, portanto, a categoria central de sua obra é o trabalho, a escola pública, universal, laica, obrigatória e gratuita; também foram evidenciados por ele, fazendo referencias marxista, com o método de analise das categorias sem prescindir a totalidade e historicidade.
              Para Marx o trabalho emerge, desta forma como categoria central do ser social, e o ser humano com suas especificidades no sentido como ser social, que transforma a natureza, transformando e desenvolvendo um processo de aprendizagem sendo assim o ser humano não existe enquanto ser social, diferentemente dos demais seres. E como o trabalho é o principal determinante da formação das sociedades, pois, está na base desse processo de evolução da sociedade assim como o ser humano e o quanto influencia em ambos os aspectos, em relação com cada elemento se formam na própria realidade objetiva. O mesmo afirma quando se refere a essa mesma categoria que as condições de produção de toda sociedade formam um todo. Alves em sua analise entendeu que esta condição é indispensável para o fazer científico e para desmistificar tais teorias conspiracionistas, segundo a qual homens oportunistas e traidores conspiram durante séculos contra uma classe explorada e contra a realização da escola pública, sendo responsável pela inviabilização do fazer científico.               
         Definida a questão metodológica e esclarecidos os pressupostos teóricos, com o auxílio dos clássicos do pensamento burguês do século XIX, procura desmistificar e corrigir as distorções provocadas pela interpretação conspiracionista, uma análise dos determinantes do surgimento da escola pública e uma exposição das dificuldades de sua expansão, reunindo as contribuições da corrente revolucionária francesa, a vertente religiosa expressa pela Reforma e a correspondente à economia política,
        Criando ilusões sobre os fatos históricos, visões apaixonadas e distorcidas da realidade, as concepções que negam a autonomia relativa da superestrutura reduzem o marxismo amaterialismo vulgar. “Propondo-se a superar o materialismo vulgar pretende reconstruir historicamente o processo de produção da escola pública contemporânea”, evidenciando que assim será possível enxergar “a ação de homens reais, que, no interior das classes em luta, dão movimento à história” (p. 40).
            Nesse sentido, a simples reprodução mecânica das condições impostas pelas bases econômicas da sociedade em que se dá o capitalismo, nesse caso dispensa, a concepção dialética de superação por incorporação, que implica, necessariamente, salto de qualidade (Alves, p. 40) defendida por Gramsci, para mim distante de nossa realidade, pois não a interesse algum por parte desse sistema, ainda com relação à questão metodológica, o autor relaciona o desenvolvimento da escola com as demandas do modo de produção capitalista. Desse modo, enfrenta a questão do surgimento e universalização da escola pública a partir da experiência das nações capitalistas mais desenvolvidas, a saber, França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, tal universalização do capitalismo determina em diferentes regiões um mesmo movimento universal, apesar das singularidades e especificidades da experiência de cada nação. Na França, Alves considera a concepção de escola para todos cultivada em nosso tempo incorporou formulações do pensamento burguês revolucionário como a ideia presente no Rapport, de oferecer a todos os indivíduos os meios de prover suas necessidades, seu bem-estar, além de conhecer e exercer seus direitos, de entender e executar seus deveres.
            É importante identificar o caráter histórico da organização do trabalho didático enquanto criação humana sob necessidades específicas,  como as sociais e as demandas geradas para a educação, a formulação dos objetivos educacionais pertinentes, até a previsão de recursos a serem mobilizados para sanar tais necessidades, na Idade Média a relação educativa se impôs como relação não sistemática. Nesse processo de transição surgiram vários instrumentos como a imprensa (por volta de 1439) e assim converteram os acervos dos monastérios em bibliotecas, na época moderna surgiu outro recurso o manual didático. Pela primeira vez na história, era proclamada a necessidade de educação para todos. Segundo Comenius, impunha-se a realização de um empreendimento no campo do ensino que atingisse “bons resultados”, “com facilidade”, “solidamente” e “com vantajosa rapidez”.
            Sobre as manufaturas a divisão do trabalho, marca distintiva em face do artesanato medieval, Comenius afirmava a necessidade da escola se elevar ao plano das artes, por uma ordem no trabalho didático que deveria ser a mesma disseminada no interior das manufaturas, surgindo assim também a necessidade de estabelecimentos escolares adequados às destinações profissionais da clientela.
            Reforma Protestante também trouxe contribuições ao debate sobre a escola pública, uma vez que celebrou a educação como uma necessidade universal dos homens tanto para fins religiosos, quanto para civis produzindo um conjunto de pensadores como o mesmo destacado por Alves, com obras incríveis como a Didática Magna pressupunha uma nova organização da atividade do ensino que permitisse a diminuição de custos e economia de tempo traduzida na simplificação do trabalho do professor. Finaliza esse primeiro período indicando um quadro de referência para a expansão escolar no século XIX e assim retorna aos primeiros apontamentos indicando que: a educação pública na França teve parte central nas discussões políticas pelo entendimento de que ela seria condição da consolidação da República.
            Na Inglaterra, a educação pública pouco dominou o debate no século XVIII e o interesse e preocupações recaíram sobre a função da educação como intervenção para impedir a quase total corrupção e degeneração da grande maioria das pessoas, e a transformação nesse processo com o desenvolvimento das condições materiais para a universalização da escola pública já no final do século XIX e princípio do século XX, a partir das consequências da Revolução Industrial. E nesse contexto o momento atual do capitalismo produz a base material da especialização e as limitações impostas ao trabalhador não mais derivam do caráter especializado de seu trabalho, mas da forma pela qual esse trabalho é explorado sob a proteção do capital.
 
 


A mão de obra infanto-juvenil era largamente utilizada no início do processo de industrialização como ilustrado, acordavam cedo, as duas, três e quatro horas da manhã, crianças de 9 e 10 anos são arrancadas de camas imundas e obrigadas a trabalhar até as 10, 11 ou 12 horas da noite, para ganhar o indispensável à mera subsistência. A situação do trabalho infantil na Inglaterra. DECCA, Edgar de. "Fábricas e Homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores". São Paulo: Atual, 1999. Em 1842. O capitalismo selvagem em que o desenvolvimento tecnológico começava a liberar mão de obra das indústrias, ao mesmo, tempo que a legislação social produzida em meio às lutas entre capitalistas e trabalhadores obrigava os empregadores a financiarem a escolarização das crianças trabalhadoras e a reduzirem sua jornada de trabalho. O súbito encarecimento da mão de obra infantil somado à tecnologia que abria a possibilidade de substituir parte da força de trabalho pelas máquinas, e assim transformando as crianças nas primeiras vítimas de desemprego. A ex-criança de fábrica adquiria assim as condições materiais para transformar-se em criança de rua. A escola, desde que refuncionalizada, colocava-se como alternativa para preencher o tempo disponível do jovem desempregado e corrigir o que poderia transformar-se num grave problema social. Partindo de pressupostos distintos burgueses e trabalhadores reivindicaram a escola. Como consequência, a escola deixaria de ser uma instituição frequentada pelos filhos da burguesia, e chegando à classe trabalhadora, finalmente, seria tomada por um movimento que clamava por sua universalização. Quando a escola burguesa atingiu os filhos dos trabalhadores, operou-se em seu interior uma profunda mudança que superou o dualismo entre a formação profissionalizante e a formação humanística, destinada aos filhos das elites.
 

            Esse novo momento da sociedade capitalista impôs uma reconfiguração do estado, e as tensões sociais criadas pelo desemprego tornam-se cada vez mais frequente. Várias atividades improdutivas foram criadas pela força reguladora do Estado: o funcionalismo público, a criação das forças armadas, a rede pública de saúde e a educação. Essa é a forma de assegurar a existência parasitária de uma parcela significativa desses contingentes; de manter o equilíbrio social. A escola pública desenvolveu-se a partir da expansão das atividades improdutivas, permitindo a alocação dos trabalhadores excluídos da produção junto às camadas intermediárias da sociedade.

            Fazendo uma analogia à análise de Marx sobre a produção material do bandido, remete-nos ao fato de que a expansão da escola, legítima manifestação do grau de parasitismo atingido pela sociedade capitalista. O anacronismo da organização da escola pública pune os homens do nosso tempo com a impossibilidade de ascender através da educação ao conhecimento culturalmente significativo, capaz de tornar acessível à compreensão da totalidade. Para isso, propõe em primeiro lugar a supressão do manual didático.

            Com relação ao resgate das obras clássicas, são um legado da historia, e o abandono em favor dos manuais didáticos condenou muitos homens do nosso tempo a uma miopia que distorce a compreensão das coisas, a universalização da escola ampliou o espaço da luta de classes e levou essa instituição, outrora pacífica, a incorporar os conflitos sociais, assim, depreende-se que esse modelo de educação escolar será superado na medida em que dialeticamente educadores pais e alunos no interior da luta de classes derem movimento ao curso de produção da escola para todos.

            Portanto, um importante elemento de pauta para a tarefa política de formação dos educadores, em nosso tempo, qual seja a libertação de suas consciências em face desse domínio ideológico perpetuado por séculos, que se traduz nas reivindicações, ainda, por uma pedagogia artesanal. As condições materiais que davam sustentação a essa pedagogia já foram revolucionadas há muito tempo. Logo, tais reivindicações devem ser denunciadas como profundamente reacionárias, pois é, inclusive, um óbice ao desenvolvimento das condições subjetivas da transformação educacional no presente, aspecto indissociável da própria transformação social.

 

            ALVES, Gilberto Luiz. A produção da escola pública contemporânea. Campinas: Autores Associados, 2006. p. 7- 132.
              ALVES, Gilberto Luiz. A produção da escola pública contemporânea. Campinas: Autores Associados, 2006. p. 133- 267

              Encontro 6° e 8°

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário