quinta-feira, 11 de junho de 2015

A educação do homem burguês

      Do Renascimento até o século XVIII


         "Reformadores", "pagãos", ou "católicos tíbios", os humanistas expressavam confusamente as transformações que o nascente capitalismo comercial impunha à estrutura econômica do feudalismo.
Ao nobre desalojado dos seus castelos e obrigado a incorporar-se à monarquia como funcionário ou palaciano, já de pouco servia a velha educação "cavalheiresca".
           Montaigne, que falava como um representante desses nobres, não só abominava a guerra, como também exigia para o "jovem de ascendência nobre", para o qual planejava uma educação, um tipo de ensino diferente do que tinha recebido até agora. Afirmava Montaigne, que deveriam limitar o campo dos seus estudos a coisas de provada utilidade. Ler e escrever já não eram considerados como coisas de mulheres.
            Apesar de haverem estudos superiores, eram extremamente caros, e não haviam estudos de caráter popular, em que a população teria acesso. Disse Pierre de la Ramée: " E coisa bem indigna é o fato de o caminho que conduz à filosofia estar fechado e proibido à pobreza".
A Reforma, ao contrário, expondo as suas reivindicações em idioma nacional e conservando-se fiel ao cristianismo, não só conseguiu arrastar a média e a pequena burguesia, como também as massas camponesas e pré-proletárias, que aliás, pretenderam ir mais longe ainda.
           É verdade que o protestantismo, ao dar ao homem a responsabilidade da sua fé e ao colocar a fonte dessa fé nas Sagradas Escrituras, assumiu, ao mesmo tempo, a obrigação de colocar todos os fiéis em condições de salvar as suas almas mediante a leitura da Bíblia. Desse modo, a instrução elementar, passava a ser o primeiro dever da caridade, e ainda que, no fanatismo de Lutero, não sobrasse muito lugar para o saber profano, não é menos certo que ele, num sermão famoso, aconselhou os pais a que enviassem os seus filhos à escola.
           Mas se o protestantismo se preocupava com a educação "popular", no sentido de difundir as primeiras letras, que não eram sequer levadas em conta pelas escolas monásticas católicas, ele o fazia, como dissemos, na medida em que a difusão da leitura permitia o manuseio da Bíblia e orientava o povo na direção da Igreja Reformada.
          A intenção do protestantismo era, pois, educar a burguesia abonada e, ao mesmo tempo não "abandonar" as classes desfavorecidas.
          Já os jesuítas se esmeravam em dar aos seus colégios o mais brilhante vernil cultural possível. Sem se preocupar com a educação popular, os jesuítas se esforçavam para controlar a educação dos nobres e dos burgueses abonados. Os seus professores não há duvida, eram os mais bem preparados, o seu ensino era o mais bem dirigido.
         Com relação as chamadas classes populares encontrava-se em sua constituição uma passagem de sentido não duvidoso "Nenhuma das pessoas empregadas em serviços domésticos pela companhia deverá saber ler e escrever, e elas não deverão ser instruídas nesses assuntos, a não ser com o consentimento do Geral da Ordem, porque para servir a Jesus basta a simplicidade e a humildade".
         Mas, se os Jesuítas desprezavam de modo tão claro tudo o que se referia à educação popular, havia outras ordens católicas que se encarregavam dessa educação. Dentre elas escolas que ensinavam trabalhos manuais de modo que pudessem ser agências de informações ou lugares de mercado em que as pessoas abonadas pudessem ir buscar servidores domésticos ou empregados comerciais ou industriais.
         A partir do século XVI, a burguesia começou a reunir os operários, até então esparsos, para conseguir um trabalho de cooperação. Por meio de uma gradual socialização dos trabalhadores e dos instrumentos de produção, foi se passando da cooperação simples à manufatura e, desta, à grande indústria, tendo como principais características exe.: quando a maquina de fiar substitui o fuso, e o tear mecânico, o manual, a produção deixou de ser uma serie de atos individuais, para se converter numa série de atos coletivos.




     Da Revolução Francesa até o século XIX




        Para que a burguesia conseguisse realizar o seu prodigioso desenvolvimento não eram suficientes o desenvolvimento do comércio e o alargamento quase mundial do mercado. Era preciso além disso, que exércitos compactos de trabalhadores livres fossem recrutados para oferecer os seus braços a burguesia.
       A ruina do mundo feudal libertava os servos, da mesma forma que a queda do mundo antigo havia emancipado os escravos.
      Outro fenomeno extremamente importante começou a manifestar-se. Quando a produção de mercadorias - isto é, a produção destinada á troca e não ao comércio interno - alcançou determinado nível, nova forma de apropriação surgiu no mundo. Na forma de apropriação que Marx chamou de capitalista, ou seja o capitalista se apodera, sem nenhuma retribuição, de uma considerável parte do trabalho alheio, de tal modo que o salário com que "paga" os seus operários mal dá para que esses possam se manter e possam voltar a vender ao capitalista, nas mesmas condições, a sua força de trabalho.
      Quanto as escolas Basedown distinguia em dois tipos, uma para os pobres e outra para os cidadãos mais eminentes, para ele não havia nenhum incoviniente pois dizia era muito grande a diferença de hábitos e de condições existentes entre classes a que se destinavam essas escolas, e que as crianças plebéias necessitavam de menos instrução do que as outras e deveriam dedicar metade do seu tempo a trabalhos manuais.
       Para Filangieri "o agricultor, o ferreiro, etc. não necessitavam mais do que uma instrução fácil e breve para adquirir as noções necessárias para a sua conduta civil e para os progressos na sua arte. Não se poderia dizer o mesmo em relação aos homens destinados a servir à sociedade com os seus talentos"
       Para ser universal, a educação pública deve ser tal que todas as classes, todas as ordens do Estado dela participem mas não uma educação em que todas as classes tenham a mesma parte.
       O avanço da indústria traz uma problemática para a alta burguesia: para que ela exista, é necessária a constante renovação dos métodos de produção em busca de uma maior rentabilidade. Mas a aparelhagem técnica, cada vez mais elaborada, exigia um operário capaz de manuseá-la.
       De fato, até para manejar o arado o trabalhador precisava saber ler. Ao lado dos operários não qualificados e dos trabalhadores especializados, o capitalismo requeria também a existência de operários altamente especializados, detentores de uma cultura excepcional.
       É, então, no lado de fora das fábricas que surgem as chamadas "escolas técnicas" para ensinar o proletariado a exercer o trabalho do qual necessita a burguesia.
       Uma educação primária para as massas e uma educação superior para os técnicos eram, em essência, o que a burguesia exigia no campo da educação.
       Uma vez conseguida a dominação social, a burguesia se empenha em criar também uma ideologia que legitime a sua superioridade quanto aos demais. A educação, convenientemente, consegue atingir esses dois propósitos.


Vídeos sobre a Revolução Francesa
https://www.youtube.com/watch?v=2GfMVOU29O0
https://www.youtube.com/watch?v=bad0n38vHq0


PONCE, A. Educação e luta de classe. São Paulo: Cortez Editora e Autores Associados, 1981. 

                                                                                                                                       Encontro 5°

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