A produção da escola pública
contemporânea
A função especificamente
pedagógica da escola contemporânea considera-se a possibilidade objetiva de
produção de uma nova escola e uma organização do trabalho didático que se deve
as conquista tecnológicas na produção, comunicação e à informática. Foi à
intenção do autor com o intuito de alertar, que a realização dessa nova instituição
social deve partir de uma recuperação histórica das origens da escola pública
reconhecendo os pilares que sustentam e tornam no seu entendimento, anacrônica,
ou seja, que se opõe ao que é moderno; antiquado ou retrógrado.
Nesse contexto determinar as
condições materiais necessárias para o surgimento da escola publica e posteriormente
para sua universalização, e as novas funções da escola demandadas pela
sociedade contemporânea, Fazem uma crítica às leituras que, desprezam a
historicidade em suas análises sobre o objeto em questão produzem uma visão
conspiracionista da História. Alves fundamentou-se na análise da produção
material da escola e, portanto, a categoria central de sua obra é o trabalho, a
escola pública, universal, laica, obrigatória e gratuita; também foram
evidenciados por ele, fazendo referencias marxista, com o método de analise das
categorias sem prescindir a totalidade e historicidade.
Para Marx o trabalho emerge,
desta forma como categoria central do ser social, e o ser humano com suas
especificidades no sentido como ser social, que transforma a natureza,
transformando e desenvolvendo um processo de aprendizagem sendo assim o ser
humano não existe enquanto ser social, diferentemente dos demais seres. E como
o trabalho é o principal determinante da formação das sociedades, pois, está na
base desse processo de evolução da sociedade assim como o ser humano e o quanto
influencia em ambos os aspectos, em relação com cada elemento se formam na
própria realidade objetiva. O mesmo afirma quando se refere a essa mesma
categoria que as condições de produção de toda sociedade formam um todo. Alves
em sua analise entendeu que esta condição é indispensável para o fazer
científico e para desmistificar tais teorias conspiracionistas, segundo a qual
homens oportunistas e traidores conspiram durante séculos contra uma classe
explorada e contra a realização da escola pública, sendo responsável pela
inviabilização do fazer científico.
Definida a questão metodológica e
esclarecidos os pressupostos teóricos, com
o auxílio dos clássicos do pensamento burguês do século XIX, procura
desmistificar e corrigir as distorções provocadas pela interpretação
conspiracionista, uma análise dos determinantes do surgimento da escola
pública e uma exposição das dificuldades de sua expansão, reunindo as
contribuições da corrente revolucionária francesa, a vertente religiosa
expressa pela Reforma e a correspondente à economia política,
Criando ilusões sobre os fatos
históricos, visões apaixonadas e distorcidas da realidade, as concepções que
negam a autonomia relativa da
superestrutura reduzem o marxismo amaterialismo vulgar. “Propondo-se a superar o materialismo
vulgar pretende reconstruir historicamente o processo de produção da escola
pública contemporânea”, evidenciando que assim será possível enxergar “a ação
de homens reais, que, no interior das classes em luta, dão movimento à
história” (p. 40).
Nesse
sentido, a simples reprodução mecânica
das condições impostas pelas bases econômicas da sociedade em que se dá o
capitalismo, nesse caso dispensa, a concepção dialética de superação por
incorporação, que implica, necessariamente, salto de qualidade (Alves, p. 40)
defendida por Gramsci, para mim distante de nossa realidade, pois não a
interesse algum por parte desse sistema, ainda com relação à questão metodológica, o autor relaciona o desenvolvimento da escola com as
demandas do modo de produção capitalista. Desse modo, enfrenta a questão
do surgimento e universalização da escola pública a partir da experiência das
nações capitalistas mais desenvolvidas, a saber, França, Alemanha, Inglaterra e
Estados Unidos, tal universalização do
capitalismo determina em diferentes regiões um mesmo movimento
universal, apesar das singularidades e especificidades da experiência de cada
nação. Na França, Alves considera a concepção de escola para todos cultivada em
nosso tempo incorporou formulações do pensamento burguês revolucionário como a ideia
presente no Rapport, de
oferecer a todos os indivíduos os meios de prover suas necessidades, seu
bem-estar, além de conhecer e exercer seus direitos, de entender e executar
seus deveres.
É
importante identificar o caráter
histórico da organização do trabalho didático enquanto criação humana
sob necessidades específicas, como as
sociais e as demandas geradas para a educação, a formulação dos objetivos
educacionais pertinentes, até a previsão de recursos a serem mobilizados para
sanar tais necessidades, na Idade Média
a relação educativa se impôs como relação não sistemática. Nesse
processo de transição surgiram vários instrumentos como a imprensa (por volta
de 1439) e assim converteram os acervos dos monastérios em bibliotecas, na
época moderna surgiu outro recurso o manual didático. Pela primeira vez na história, era proclamada a necessidade de educação
para todos. Segundo Comenius, impunha-se a realização de um
empreendimento no campo do ensino que atingisse “bons resultados”, “com
facilidade”, “solidamente” e “com vantajosa rapidez”.
Sobre as manufaturas a divisão do trabalho,
marca distintiva em face do artesanato medieval, Comenius afirmava a
necessidade da escola se elevar ao plano das artes, por uma ordem no trabalho
didático que deveria ser a mesma disseminada no interior das manufaturas,
surgindo assim também a necessidade de estabelecimentos escolares adequados às
destinações profissionais da clientela.
Reforma Protestante também trouxe
contribuições ao debate sobre a escola pública, uma vez que celebrou a educação
como uma necessidade universal dos homens tanto para fins religiosos, quanto
para civis produzindo um conjunto de pensadores como o mesmo destacado por Alves,
com obras incríveis como a Didática
Magna pressupunha uma nova organização da atividade do ensino que
permitisse a diminuição de custos e economia de tempo traduzida na
simplificação do trabalho do professor. Finaliza esse primeiro período
indicando um quadro de referência para a expansão escolar no século XIX e assim
retorna aos primeiros apontamentos indicando que: a educação pública na França
teve parte central nas discussões políticas pelo entendimento de que ela seria
condição da consolidação da República.
Na Inglaterra, a educação pública
pouco dominou o debate no século XVIII e o interesse e preocupações recaíram
sobre a função da educação como intervenção para impedir a quase total
corrupção e degeneração da grande maioria das pessoas, e a transformação nesse
processo com o desenvolvimento das condições materiais para a universalização
da escola pública já no final do século XIX e princípio do século XX, a partir
das consequências da Revolução Industrial. E nesse contexto o momento atual do
capitalismo produz a base material da especialização e as limitações impostas
ao trabalhador não mais derivam do caráter especializado de seu trabalho, mas
da forma pela qual esse trabalho é explorado sob a proteção do capital.

A mão de obra
infanto-juvenil era largamente utilizada no
início do processo de industrialização como ilustrado, acordavam cedo, as duas, três e quatro horas da manhã,
crianças de 9 e 10 anos são arrancadas de camas imundas e obrigadas a trabalhar
até as 10, 11 ou 12 horas da noite, para ganhar o indispensável à mera
subsistência. A
situação do trabalho infantil na Inglaterra. DECCA, Edgar de. "Fábricas e
Homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores". São
Paulo: Atual, 1999. Em 1842. O capitalismo selvagem em
que o desenvolvimento tecnológico começava a liberar mão de obra das
indústrias, ao mesmo, tempo que a legislação social produzida em meio às lutas
entre capitalistas e trabalhadores obrigava os empregadores a financiarem a
escolarização das crianças trabalhadoras e a reduzirem sua jornada de trabalho. O súbito encarecimento da
mão de obra infantil somado à tecnologia que abria a possibilidade de
substituir parte da força de trabalho pelas máquinas, e assim transformando as
crianças nas primeiras vítimas de desemprego. A ex-criança de
fábrica adquiria assim as condições materiais para transformar-se
em criança de rua. A escola, desde que refuncionalizada, colocava-se como alternativa para
preencher o tempo disponível do jovem desempregado e corrigir o que poderia
transformar-se num grave problema social. Partindo de pressupostos distintos
burgueses e trabalhadores reivindicaram a escola. Como consequência, a escola
deixaria de ser uma instituição frequentada pelos filhos da burguesia, e
chegando à classe trabalhadora, finalmente, seria tomada por um movimento que
clamava por sua universalização. Quando a escola burguesa atingiu os filhos dos trabalhadores, operou-se
em seu interior uma profunda mudança que superou o dualismo entre a formação
profissionalizante e a formação humanística, destinada aos filhos das elites.
Esse novo momento da
sociedade capitalista impôs uma reconfiguração do estado, e as tensões sociais
criadas pelo desemprego tornam-se cada vez mais frequente. Várias atividades
improdutivas foram criadas pela força reguladora do Estado: o funcionalismo público,
a criação das forças armadas, a rede pública de saúde e a educação. Essa é a
forma de assegurar a existência parasitária de uma parcela significativa desses
contingentes; de manter o equilíbrio social. A escola pública desenvolveu-se a
partir da expansão das atividades improdutivas, permitindo a alocação dos
trabalhadores excluídos da produção junto às camadas intermediárias da
sociedade.
Fazendo uma analogia à
análise de Marx sobre a produção material do bandido, remete-nos ao fato de que
a expansão da escola, legítima manifestação do grau de parasitismo atingido
pela sociedade capitalista. O anacronismo da organização da escola pública pune os homens do nosso
tempo com a impossibilidade de ascender através da educação ao conhecimento
culturalmente significativo, capaz de tornar acessível à compreensão
da totalidade. Para isso, propõe em primeiro lugar a supressão do
manual didático.
Com relação ao resgate
das obras clássicas, são um legado da historia, e o abandono em favor dos
manuais didáticos condenou muitos homens do nosso tempo a uma miopia que
distorce a compreensão das coisas, a universalização da escola ampliou o espaço
da luta de classes e levou essa instituição, outrora pacífica, a incorporar os
conflitos sociais, assim, depreende-se que esse modelo de educação escolar será
superado na medida em que dialeticamente educadores pais e alunos no interior
da luta de classes derem movimento ao curso de produção da escola para todos.
Portanto, um
importante elemento de pauta para a tarefa política de formação dos educadores,
em nosso tempo, qual seja a libertação de suas consciências em face desse
domínio ideológico perpetuado por séculos, que se traduz nas reivindicações,
ainda, por uma pedagogia artesanal. As condições materiais que davam sustentação
a essa pedagogia já foram revolucionadas há muito tempo. Logo, tais
reivindicações devem ser denunciadas como profundamente reacionárias, pois é,
inclusive, um óbice ao desenvolvimento das condições subjetivas da
transformação educacional no presente, aspecto indissociável da própria
transformação social.
ALVES, Gilberto Luiz. A produção da escola pública
contemporânea. Campinas: Autores Associados, 2006. p. 7- 132.
ALVES, Gilberto Luiz. A produção da escola
pública contemporânea. Campinas: Autores Associados, 2006. p. 133- 267
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